PT | EN


A ANI apresentou conclusões dos estudos “Atividade dos Gabinetes e Infraestruturas de Transferência de Conhecimento” e “Spin-offs e Start-ups de Base Académica em Portugal”, em webinar, no dia 28 de janeiro, que contou com a participação de mais de duzentos participantes.

Portugal tem já implementado um sistema de inovação eficaz, que funciona bem, agora é necessário valorizar o conhecimento que é produzido, através de uma eficiente integração nas empresas da investigação que é desenvolvida no sistema científico e tecnológico nacional. Deverão as entidades de ensino superior integrar nos seus programas uma melhor articulação com as empresas ou deverão ser as empresas a procurar inovar, recorrendo ao conhecimento que a investigação científica produz? E como pode a Agência Nacional de Inovação (ANI) incentivar o investimento, a capacitação e a valorização do conhecimento, incorporando-o numa economia mais inovadora e sustentável?

Estes foram alguns dos tópicos abordados numa mesa redonda, que, no passado dia 28 de janeiro, se seguiu à apresentação das conclusões dos estudos “Atividade dos Gabinetes e Infraestruturas de Transferência de Conhecimento” e  “Spin-offs e Start-ups de Base Académica em Portugal”, ambos coordenados pela ANI.

O webinar arrancou com uma mensagem de boas-vindas e de enquadramento do tema por parte de António Bob Santos, administrador da ANI, a que se seguiu a apresentação do estudo sobre os Gabinetes e Infraestruturas de Transferência de Conhecimento (GITC). A análise consistiu no mapeamento e levantamento de informação sobre indicadores de atividade e resultado desta tipologia de atores, com um papel fundamental na dinamização de conhecimento no sistema de inovação nacional, especialmente na ligação entre a academia e as empresas. Foram auscultadas quase 100 entidades, incluindo gabinetes de transferência de tecnologia (normalmente associados a instituições de ensino superior), centros de interface tecnológico, parques de ciência e tecnologia e incubadoras de base tecnológica, espalhadas por todas as regiões portuguesas.

O estudo evidencia que a maturidade do sistema científico e tecnológico nacional em termos de valorização do conhecimento ainda tem uma grande margem de progresso e que são ainda poucas as instituições que o integram que apresentam boas dinâmicas na transferência e valorização do conhecimento e na incubação de ideias e negócios. Não obstante,  a estrutura nacional já existe, tem apenas que ser colocada mais ao serviço das empresas e da sociedade, estando, portanto, reunidas as condições para essa progressão.

Concluiu-se ainda que, apesar do quadro de recursos humanos dos GITC ser altamente qualificado (taxa de doutorados é de 25%), são poucos os colaboradores formados em gestão e finanças que dele fazem parte. Por outro lado, mais de 40% destes profissionais não possui qualquer experiência empresarial, o que dificulta o diálogo e relação constante com o tecido empresarial.

Um quarto das spin-offs académicas introduziu inovações radicais

A análise realizada no segundo estudo, dedicado às spin-offs e start-ups de base académica nacionais, apresentou um mapeamento pioneiro. Estima-se que o número de empresas desta natureza seja de 380, das quais 104 foram inquiridas no âmbito deste estudo. Dez destas spin-offs foram alvo de estudos de caso que aprofundaram a génese do negócio e todo o processo de criação e desenvolvimento da empresa.

A concentração no setor das TIC é mais significativa no grupo das start-ups tecnológicas (50% vs 33% nas spin-offs académicas), enquanto o peso das spin-offs académicas é superior nos setores da saúde e ciências da vida (10% vs 5% nas start-ups tecnológicas) e da biotecnologia (10% vs 2%).

A maior parte das empresas analisadas encontra-se nas fases de scale-up e de crescimento e consolidação, evidenciando uma forte capacidade de inovação. Um quarto das spin-offs académicas afirmou ter introduzido inovações radicais (além do estado da arte internacional) e 17% das start-ups tecnológicas também atingiu esse patamar.

O perfil do fundador destas empresas é o de pessoas altamente qualificadas, com uma idade média de 36 anos, mas nem sempre com forte experiência empresarial, especialmente no caso das spin-offs académicas. Apesar do maior nível de habilitações dos fundadores das spin-offs académicas (taxa de doutorados em torno dos 50%), os fundadores das start-ups tecnológicas acabam por equilibrar melhor a experiência académica com a experiência empresarial.

Os inquiridos indicaram o financiamento do negócio como o principal handicap, tanto em termos da disponibilidade financeira dos empreendedores como na obtenção de financiamento no mercado. A fonte de financiamento mais frequentemente utilizada por estas empresas é o capital próprio dos empreendedores (sobretudo nas start-ups tecnológicas), seguido pelos incentivos financeiros disponíveis à I&D e ao empreendedorismo (51%).

“Caminho faz-se caminhando”

Joana Resende, pró-reitora da Universidade do Porto; Paulo Infante, pró-reitor da Universidade de Évora; e João Barros, founder e CEO da Veniam, uma das start-ups estudadas, debateram as conclusões dos estudos numa mesa redonda moderada por Katiuska Cruz, da ANI, em que apontaram também alguns caminhos.

Joana Resende admitiu a necessidade de se incorporar nos programas, nomeadamente nos de doutoramento, uma maior interligação com o meio empresarial, chamando a atenção para o facto de os GITC estarem muitas vezes concentrados em procurar projetos que garantam a sua própria subsistência.

Por sua vez, Paulo Infante referiu a importância da capacitação dos profissionais dos GTIC  e do trabalho em rede destes gabinetes. Reconheceu também a necessidade de se incorporarem no meio académico incentivos à valorização do conhecimento, admitindo, porém, que no “meio académico são mais valorizados os papers do que a transferência de conhecimento”. O pró-reitor da Universidade de Évora destacou ainda que a maioria dos investigadores entram em licença sabática para se dedicarem à atividade empresarial e que, mesmo nos doutoramentos, são poucos os de cariz industrial.

Já João Barros entende que “não é exigível às universidades, que formam as próximas gerações e ainda desenvolvem investigação de classe internacional, que ainda estejam preocupadas com a valorização”. O CEO da Veniam, start-up que atua na área da mobilidade inteligente, defendeu que o país deve, para além da investigação aplicada, continuar a investir em investigação fundamental. Admitiu que a entrada no mercado não é fácil, mas “é preciso estar no terreno, falar com os clientes e perceber as suas necessidades. Aprende-se, fazendo.” Para João Barros, o sistema científico e tecnológico em Portugal, embora precise de mais investimento, “está a cumprir a sua função”. Acredita ainda que se há algo que as instituições de ensino superior podem fazer para incentivar a valorização da investigação é fomentar o contacto entre doutorados e empresas, incentivando os primeiros a fazer uma parte da sua formação numa start-up, por exemplo. À ANI cabe a criação “de fóruns como este, que são muito importantes.”

João Sobrinho Teixeira, Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, encerrou o webinar, lembrando que o “caminho se faz caminhando”, apresentando como exemplos os setores do vinho e do têxtil e calçado, que receberam sentenças de morte e, no entanto, resistiram, reinventando-se, tendo-se tornado marcas de qualidade internacional.

O Secretário de Estado afirmou que a discussão sobre a valorização do conhecimento e o fomento de um maior diálogo entre instituições de ensino superior e empresas é “uma discussão longa e atual e que continuará atual”. Deu nota dos passos que têm vindo a ser dados para incrementar a inovação colaborativa, como o incentivo à criação de Laboratórios Colaborativos (CoLAB), coordenados pela ANI, que têm de integrar empresas para serem reconhecidos, e que são já 30. Por último, lembrou que a “pandemia está a contribuir para uma maior valorização da ciência” e, se é certo que a mesma é mais notória no que à saúde diz respeito, será também essencial para a afirmação da nossa economia num mundo em crise.

Reveja o evento

Aceda à página do evento aqui.

Este evento é promovido no âmbito do SIAC – Iniciativa de Transferência de Conhecimento, cofinanciada pelo COMPETE 2020, através do Portugal 2020 e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

siac
01/02/2021
Calendário
Documentos de Apoio
Sem Documentos
Contactos
info@ani.pt
Tel.: +351 21 423 21 00
PARTILHAR NAS REDES SOCIAIS |

Relacionado com as notícias


Relacionado com os eventos